Entre todas as plantas medicinais conhecidas, poucas reúnem tantas qualidades fascinantes como o Ginkgo Biloba. Esta árvore milenar é um verdadeiro sobrevivente da história do planeta: já existia muito antes dos dinossauros desaparecerem e, ainda hoje, continua a crescer em jardins, florestas e cidades por todo o mundo. O Ginkgo Biloba é, literalmente, um fóssil vivo — a única espécie sobrevivente de uma linhagem botânica com mais de 200 milhões de anos.
Mas o Ginkgo Biloba não se destaca apenas pela sua resistência ou pela beleza das suas folhas bilobadas. A sua fama moderna vem das propriedades terapêuticas que o tornaram um dos suplementos naturais mais populares do mundo. Estudos indicam que o Ginkgo pode ajudar na melhoria da memória, da concentração e da circulação sanguínea, sobretudo em pessoas mais velhas.
Neste artigo, vamos conhecer melhor esta planta excecional: desde a sua história evolutiva até ao seu uso na medicina tradicional chinesa, passando pelos benefícios comprovados pela ciência moderna e pelas curiosidades que a tornam uma das árvores mais icónicas e respeitadas do mundo natural.
O que é o Ginkgo Biloba?
O Ginkgo Biloba é uma árvore de folha caduca, facilmente reconhecível pelas suas folhas em forma de leque, com um recorte central que lhes dá o aspeto “bilobado” — daí o nome da espécie. É nativa da China e considerada uma das árvores mais antigas do planeta, tendo sobrevivido a períodos de extinção em massa e a profundas alterações climáticas ao longo de milhões de anos.
Um verdadeiro fóssil vivo
O Ginkgo Biloba é muitas vezes descrito como um fóssil vivo. Isto significa que é a única espécie sobrevivente de um grupo de árvores (Divisão Ginkgophyta) que existia há cerca de 270 milhões de anos. Encontraram-se fósseis de folhas de Ginkgo praticamente idênticas às atuais datados do período Jurássico, a Era dos Dinossauros— o que mostra a sua extraordinária estabilidade ao longo da evolução.
Distribuição e cultivo atual
Embora originalmente nativo da China, o Ginkgo Biloba espalhou-se por várias partes do mundo graças à sua resistência e valor ornamental. É comum vê-lo em parques e cidades da Europa, América do Norte e Ásia, pois é uma árvore muito tolerante à poluição urbana, pragas e variações climáticas. Em Portugal, pode ser encontrado em jardins botânicos e espaços públicos de várias cidades, como Lisboa, Coimbra ou Porto.
A longevidade também é uma das suas marcas: há exemplares com mais de 2.500 anos, como os que se encontram junto a templos budistas no Japão e na China.
Um Tesouro da Medicina Tradicional Chinesa
Muito antes de a ciência moderna começar a estudar os seus compostos ativos, o Ginkgo Biloba já era usado na medicina tradicional chinesa há mais de dois milénios. Considerada uma planta de grande valor terapêutico e espiritual, o Ginkgo fazia parte de fórmulas utilizadas para equilibrar o organismo e estimular a vitalidade.
Cada uma destas substâncias representa décadas de estudo, testes clínicos e desenvolvimento farmacêutico. Mas tudo começa com uma planta — muitas vezes descoberta por povos que a usavam muito antes de existir laboratório ou microscópio.
Usos ancestrais
Na medicina chinesa, o Ginkgo era utilizado sobretudo para melhorar a circulação sanguínea, aliviar sintomas de asma e bronquite, e como tónico para os pulmões e o cérebro. As sementes (menos utilizadas atualmente devido à sua toxicidade em excesso) eram usadas em preparações específicas.
As folhas, por outro lado, tornaram-se mais importantes com o tempo, principalmente na forma de infusões e extratos. O objetivo era aumentar o “qi” (energia vital), melhorar a longevidade e manter a mente clara.
Um símbolo espiritual
Para além do seu valor medicinal, o Ginkgo Biloba tem uma forte ligação à espiritualidade oriental. É uma árvore sagrada no budismo, frequentemente plantada nos arredores de templos como símbolo de resistência, paz e iluminação.
As suas folhas amarelas no outono são associadas ao ciclo da vida e da renovação, e muitas vezes são usadas em cerimónias e rituais. Na China, Coreia e Japão, o Ginkgo é também símbolo de longevidade, sabedoria e resiliência — características que refletem tanto a sua biologia quanto o seu papel na cultura.
Ginkgo Biloba e a Ciência Moderna
Com o aumento do interesse pelas plantas medicinais e pelos tratamentos naturais, o Ginkgo Biloba tornou-se alvo de inúmeros estudos científicos desde meados do século XX. A investigação concentrou-se sobretudo nas suas propriedades antioxidantes, vasodilatadoras e neuro protetoras, que podem contribuir para melhorar a função cognitiva e a circulação sanguínea.
Compostos ativos principais
Os efeitos terapêuticos do Ginkgo Biloba devem-se principalmente a dois grupos de compostos bioativos:
- Flavonoides: potentes antioxidantes, que combatem os radicais livres e ajudam a proteger os tecidos nervosos e os vasos sanguíneos.
- Terpenoides (ginkgólidos e bilobalidos): aumentam o fluxo sanguíneo ao inibir a agregação plaquetária e promovem a vasodilatação, contribuindo para uma melhor oxigenação cerebral.
Estes compostos são extraídos sobretudo das folhas da árvore, sendo padronizados em suplementos de uso farmacêutico ou fitoterapêutico.
Melhoria da memória e da função cognitiva
Vários estudos sugerem que o Ginkgo Biloba pode ajudar a melhorar a memória, especialmente em pessoas mais velhas, e que pode ter um efeito positivo nos estágios iniciais de demência e doença de Alzheimer. Acredita-se que o aumento da circulação cerebral contribua para esses benefícios.
Embora os resultados variem de estudo para estudo, há consenso quanto ao seu efeito neuro protetor, sobretudo quando utilizado de forma contínua e acompanhada por um profissional de saúde.
Outros usos terapêuticos
Além do apoio cognitivo, o Ginkgo Biloba tem sido utilizado para tratar:
- Problemas de circulação periférica (mãos e pés frios, pernas cansadas)
- Tonturas e vertigens
- Zumbidos (tinnitus)
- Alívio de sintomas associados à síndrome de Raynaud
É também estudado no contexto de retinopatia diabética, ansiedade leve e fadiga crónica, embora com resultados ainda em análise.

Ginkgo Biloba: Benefícios Confirmados e Cuidados a Ter
A popularidade do Ginkgo Biloba como suplemento alimentar deve-se, em grande parte, aos seus efeitos positivos na saúde cerebral e circulatória. No entanto, como em qualquer substância ativa, é importante conhecer não só os benefícios, mas também as limitações e precauções no seu uso
Benefícios mais estudados
Abaixo, estão os principais efeitos terapêuticos do Ginkgo Biloba com base em evidência científica:
- Melhoria da memória e da concentração
Especialmente em adultos mais velhos e em casos leves de comprometimento cognitivo. - Redução de sintomas de demência e Alzheimer
Quando usado em fases iniciais e como complemento a tratamentos convencionais. - Aumento da circulação sanguínea
Ajuda a aliviar problemas como má circulação periférica, sensação de frio nas extremidades, pernas pesadas e zumbidos. - Ação antioxidante
Combate o envelhecimento celular precoce, contribuindo para a proteção dos tecidos nervosos e cardiovasculares. - Redução de ansiedade leve
Alguns estudos indicam efeitos positivos em casos de stress ou ansiedade leve a moderada.
Cuidados e contraindicações
Apesar dos benefícios, o uso de Ginkgo Biloba deve ser feito com responsabilidade. Como atua na circulação e pode afetar a agregação plaquetária, o Ginkgo não deve ser usado com medicamentos anticoagulantes, como a varfarina ou aspirina, sem supervisão médica.
Outros cuidados incluem:
- Evitar antes de cirurgias (risco de hemorragia)
- Consultar um médico em casos de gravidez, amamentação ou doenças crónicas
- Possíveis efeitos secundários leves: dores de cabeça, náuseas, reações cutâneas ou distúrbios gastrointestinais
Além disso, é fundamental escolher suplementos com extratos padronizados, que garantem a concentração correta de princípios ativos (normalmente 24% de flavonoides e 6% de terpenoides).
A Árvore que Sobreviveu à Bomba Atómica
Entre todas as curiosidades que envolvem o Ginkgo Biloba, uma das mais impressionantes é a sua resistência extraordinária demonstrada após a explosão da bomba atómica em Hiroshima, no Japão.
Hiroshima, 1945: o renascimento do Ginkgo
No dia 6 de agosto de 1945, a primeira bomba nuclear foi lançada sobre Hiroshima, destruindo quase tudo num raio de vários quilómetros. Entre as ruínas, algumas árvores carbonizadas começaram a rebrotar apenas semanas após a explosão. Eram Ginkgos.
Estas árvores estavam localizadas a cerca de 1.000 metros do epicentro, em templos e jardins antigos. Apesar do calor, da radiação e da destruição generalizada, conseguiram regenerar-se e voltar a florescer — enquanto tudo à sua volta parecia condenado.
Hoje, esses exemplares continuam vivos e são tratados com reverência. Em Hiroshima, cada Ginkgo sobrevivente é assinalado com uma placa que diz:
“No more Hiroshima” — Esta árvore sobreviveu à bomba atómica.”
Um símbolo de paz e resiliência
Desde então, o Ginkgo Biloba tornou-se símbolo internacional de paz, sobrevivência e esperança. É frequentemente plantado em locais de memória, como forma de homenagem às vítimas e como testemunho da força regeneradora da vida.
Este episódio reforçou ainda mais o estatuto quase sagrado do Ginkgo na cultura oriental, mostrando que a sua longevidade e resistência não são apenas biológicas, mas também profundamente simbólicas.
Curiosidades sobre o Ginkgo Biloba
Para além da sua história evolutiva e medicinal, o Ginkgo Biloba acumula uma série de curiosidades que o tornam uma planta única no reino vegetal:
🌱 É a única espécie da sua divisão botânica
O Ginkgo é a única sobrevivente da divisão Ginkgophyta, o que significa que não tem parentes vivos próximos. Representa uma linhagem completamente distinta de todas as outras plantas com sementes — uma verdadeira relíquia viva da pré-história
⛩️ É comum junto a templos e palácios
Na China, Coreia e Japão, é tradição plantar Ginkgos junto a templos budistas, escolas e edifícios públicos. Acredita-se que a árvore traz proteção, longevidade e sabedoria — e que a sua presença afasta energias negativas.
🍂 As folhas inspiram arte e poesia
O formato único das folhas do Ginkgo inspirou artistas e poetas ao longo dos séculos. No Japão, a folha de Ginkgo é símbolo oficial de Tóquio e aparece em logótipos, fardas escolares e até como inspiração para peças de cerâmica e origami.
🌇 Resistente à poluição urbana
É uma das árvores mais utilizadas em paisagismo urbano devido à sua resistência a gases poluentes, pragas e variações de temperatura. Em cidades como Nova Iorque, Berlim ou Lisboa, é comum ver avenidas ladeadas por Ginkgos.
⏳ Pode viver milhares de anos
Estudos sugerem que o Ginkgo Biloba não mostra sinais de envelhecimento como outras árvores. Há registos de exemplares com mais de 2.500 anos, ainda vivos e produtivos, como os localizados em templos budistas na China e no Japão.
✍️ Citação Histórica
Entre os pensadores que celebraram a beleza e a força simbólica do Ginkgo Biloba, destaca-se o poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe, que escreveu um poema em sua homenagem, em 1815, após observar a árvore no Jardim Botânico de Heidelberg:
“Esta folha do Oriente, confiada ao meu jardim, Revela um segredo suave àquele que a sabe ler.”
Goethe, no poema “Gingo biloba”
O poema, oferecido à sua amada Marianne von Willemer, usa a folha bilobada como metáfora para a dualidade entre corpo e espírito, razão e emoção. A citação mostra como o Ginkgo Biloba transcende a botânica e a medicina, assumindo também um lugar na arte, na filosofia e na espiritualidade.
Conclusão sobre Ginkgo Biloba
O Ginkgo Biloba é uma das plantas medicinais mais extraordinárias que conhecemos — não apenas pelas suas propriedades terapêuticas, mas pelo papel simbólico e científico que representa. Sobrevivente de eras geológicas, esta árvore ancestral é um testemunho vivo da história da Terra, tendo resistido a extinções em massa, às alterações climáticas, e até ao impacto humano mais destrutivo, como em Hiroshima.
Como planta medicinal, oferece benefícios reais e comprovados: melhoria da memória, da circulação e da função cognitiva. Mas o seu valor vai além da saúde. O Ginkgo Biloba recorda-nos a importância de proteger a biodiversidade, pois em cada espécie pode esconder-se um potencial imenso — para curar, para ensinar, para inspirar.
Na era da biotecnologia, em que a ciência avança a passos largos, o Ginkgo liga o passado ao futuro: uma planta que surgiu muito antes de nós, mas que hoje serve de base para investigações médicas, produtos farmacêuticos e descobertas científicas que moldam o amanhã.
Em tempos de incerteza ambiental e aceleração tecnológica, o Ginkgo Biloba desafia-nos a olhar com mais respeito para o conhecimento da natureza — e para o legado profundo das plantas medicinais na construção de um mundo mais saudável, sustentável e consciente.
Assista ao vídeo sobre o Ginkgo Biloba 👇
📚 Principais Referências
✅ World Health Organization (WHO) – WHO Monographs on Selected Medicinal Plants
✅ National Center for Complementary and Integrative Health (NCCIH) – Ginkgo
✅ European Medicines Agency (EMA) – Herbal Medicinal Products: Ginkgo folium
✅ Goethe, Johann Wolfgang von – Poema “Gingo biloba”, 1815
✅ Yoshitake, T. et al. (2009) – Neuroprotective effects of Ginkgo Biloba extract
❓FAQs - Perguntas mais Frequentes
O que é o Ginkgo Biloba?
O Ginkgo Biloba é uma árvore milenar considerada um fóssil vivo. É a única espécie sobrevivente da sua linhagem botânica e é amplamente usada como planta medicinal, especialmente para melhorar a circulação e a função cerebral.
Quais os benefícios do Ginkgo Biloba para a saúde?
Os principais benefícios incluem melhoria da memória e da concentração, aumento da circulação sanguínea, redução de sintomas de demência leve, ação antioxidante e alívio de tonturas e zumbidos.
O Ginkgo Biloba tem comprovação científica?
Sim. Diversos estudos clínicos confirmam os efeitos positivos do Ginkgo Biloba em áreas como cognição, circulação e envelhecimento cerebral, embora os resultados possam variar de pessoa para pessoa.
O Ginkgo Biloba é seguro para todos?
Apesar de ser natural, o Ginkgo Biloba pode causar efeitos secundários leves e interagir com medicamentos anticoagulantes. Deve ser evitado antes de cirurgias e usado com supervisão médica em casos específicos.
Qual a relação entre o Ginkgo Biloba e a história da Terra?
O Ginkgo Biloba existe há mais de 200 milhões de anos, sendo um dos organismos vivos mais antigos do planeta. É um exemplo claro de como a biodiversidade da Terra guarda espécies com valor medicinal, histórico e científico incalculável.